Monthly Archives: Março 2013

Rio e as dificuldades na Paraíba

Minha alma canta! Vejo o Rio de Janeiro, estou morrendo de saudades
Rio, seu mar. Praia sem fim. Rio, você foi feito prá mim
Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque, Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar, eu corpo todo balançar
Rio de sol, de céu, de mar
Dentro de mais um minuto estaremos no Galeão…

(Samba do Avião, Tom Jobim)

Despedida do Parque do Flamengo, point da família aos domingos

Despedida do Parque do Flamengo, point da família aos domingos

Lembrar do Rio de Janeiro é prender a respiração, deixar os olhos ficarem marejados e desejar voltar um dia com nosso Tomilho, nem que seja para passear. A temporada que vivemos na cidade maravilhosa foi uma lua de mel. Tommy chegou em setembro de 2007 para completar nossas vidas (Karol + Seu Carlinhos) e já em março de 2008 estávamos embarcando para nossa terra, João Pessoa, levando o carioquinha da gema no avião. O post de estreia do blog conta um pouquinho sobre nossa história. 

O assunto ‘Rio’ volta à pauta do nosso blog hoje porque queremos compartilhar um pouco de como foi bacana e acolhedor viver com um amigo bicho na capital fluminense. Vocês conhecem o conceito ‘dog friendly‘? Refere-se geralmente a hotéis, mas pode ser aplicado a todo tipo de espaço público que aceita a inclusão e socialização de nossos peludinhos entre os humanos sem restrições e preconceitos: praias, parques, restaurantes… até pubs (aqueles bares britânicos) já ganharam o título por permitirem que seus clientes “tomem uma” acompanhados de seus bichinhos!

Entre as cidades nas quais moramos com nosso Tomilho (Rio, João Pessoa, Campina Grande e São Raimundo Nonato), sem dúvida o Rio foi a que ofereceu mais opções de passeios e lazer com o pretinho. Claro, trata-se de uma cidade grande que naturalmente tem mais diversidade em termos de diversão, mas queremos deixar bem claro aqui que a boa convivência com animais de estimação também é uma questão cultural.

Tommy ainda bebê em 2007, no Rio: mais interessado em cheirar as flores na calçada de nosso prédio na Rua Buarque de Macedo

Tommy ainda bebê em 2007, no Rio: mais interessado em cheirar as flores na calçada de nosso prédio na Rua Buarque de Macedo

Foram muito prazerosos os fins de tarde que passamos com Tommy no Aterro do Flamengo, a poucos metros do prédio onde morávamos. Eram inúmeras as pessoas que faziam suas caminhadas acompanhadas dos pets, muitos deles andando sem coleira, outros bagunçando na grama! Já nos feriados e aos domingos as famílias têm o parque exclusivamente para elas. A passagem de veículos é interditada e aí podemos andar sem preocupações na pista, soltar os cachorros sem medo de atropelamentos, brincar de bola! Foi uma experiência sem igual em termos de liberdade e aceitação. Além do Flamengo, todo bairro é uma mini-cidade com praças grandes, abertas e algumas delas têm espaços exclusivos, como o ‘Parcão’, onde dá para soltar a bicharada (apesar de ser preciso observar bem a existência de parasitas, como pulgas e carrapatos, nestes ambientes).

Falamos em aceitação por causa do alto astral das ruas, do bom humor e do respeito com o espaço do outro. Sempre que passeávamos com Tommy tinha algum curioso querendo fazer carinho nele. As pessoas lá realmente gostam de animais! Podem viver em apartamentos minúsculos, mas são capazes de criar labradores e compensar todos os dias o aperto com longos passeios ao ar livre.

E por se tratar de uma cidade grande que precisa de regras de convivência para evitar um caos, muita gente já sabe bem dos seus direitos e deveres. Se vai passear, leva o saco plástico para apanhar o cocozinho do animal. Se mora em apartamento, não transita com o bichinho no elevador ou nas áreas sociais. Entre outras boas maneiras…

É claro que existem os ignorantes, como em todo lugar, mas a realidade é bem diferente das outras cidades nas quais moramos, como vamos mostrar.

No livro e no filme Marley & Eu, o personagem John Grogan vai a restaurantes, parques e à praia com o labrador; quem dera no Nordeste fosse assim!

No livro e no filme Marley & Eu, o personagem John Grogan vai a restaurantes, parques e à praia com o labrador – isto ainda na década de 1990; quem dera na Paraíba fosse fácil assim!

CONVIVÊNCIA EM PRÉDIOS

O grande choque que tivemos ao retornar a João Pessoa foi a intolerância com cachorros nos condomínios. Em 2008, raros eram os prédios residenciais na capital paraibana cujos moradores ‘suportavam’ dividir o mesmo espaço com pets que não são, digamos, silenciosos. Sabendo muito bem dos nossos direitos, conseguimos alugar um apartamento no Bairro dos Estados, mas enfrentamos algumas discórdias por causa dos latidos. Como se crianças também não fizessem barulho, hein?

Já em Campina Grande, em 2011, o problema não foi necessariamente a aceitação, mas a dificuldade em encontrar um condomínio que permitisse a entrada de cães. A procura incessante valeu a pena quando enfim conseguimos encontrar um lugar excelente no bairro do Catolé, um condomínio com três prédios que permite a moradia com cachorros, desde que os locatários/proprietários respeitem algumas regras com relação aos espaços compartilhados. Nada mais justo. Bom senso é sempre bem-vindo! E lá não tivemos dores de cabeça com Tommy.

PASSEIO PÚBLICO RESTRITO

Com relação aos passeios, outro choque. Apesar de aqui no Nordeste as famílias terem uma cultura de criar cachorros, os bichinhos ficam restritos aos quintais da casa. Presos em coleiras o dia inteiro, comendo os restos do almoço e muitas vezes sem nenhum momento de carinho ou brincadeiras. O objetivo de mantê-los, em muitos casos, é soltá-los à noite para fazer a segurança da casa. O resultado? Cães deprimidos ou violentos. Uma tristeza! Ressalto que esta visão tem mudado muito, mas ainda persiste.

Esse panorama ajuda a entender porque as cidades nordestinas têm tão poucos espaços públicos para famílias com cães. Falando de João Pessoa e Campina Grande: temos que dividir o espaço em calçadas apertadas, seja na praia ou no Açude Velho. As praças são pequenas e não há condição de soltar a coleira para brincar de bola. Não há parques – com exceção do Parque da Criança (CG), que não permite a entrada dos cãezinhos. Bar, restaurante e hotel onde os cachorros são aceitos, então? Nem pensar! A não ser em beira de estrada, como temos vivenciado em nossas viagens com Tommy. É como se estas cidades fossem pequenos mundos onde somente os humanos têm direito à diversão e onde a interação entre as espécies fosse inaceitável.

COCÔ NA CALÇADA

A higiene é um capítulo à parte! Ainda são poucas (pouquíssimas) as pessoas que têm o hábito de levar sacos, pás ou outro instrumento para apanhar as ‘obras’ que os seus bichinhos fizeram nas ruas. O que vimos em João Pessoa foram calçadas imundas onde cada passo representava um perigo! Não estamos dizendo que o Rio de Janeiro seja um exemplo de limpeza pública (longe disso), mas por lá cinco anos atrás já encontramos uma realidade bem à nossa frente neste quesito.

SÃO RAIMUNDO NONATO

Sendo curtos e grossos: é impossível andar com cachorros em áreas livres aqui na nova morada piauiense. Há algumas praças, mas o calor é castigante o ano inteiro. Além disso, a cidade não tem saneamento básico. O esgoto corre solto pelos cantos das calçadas. Precisamos falar sobre o risco de doenças? Até tentamos de vez em quando levá-lo quando vamos fazer algum lanche em uma praça… mas não é muito agradável. O que salva é que finalmente estamos morando em uma casa e Tommy tem toda a liberdade para correr e brincar de bola. Por enquanto, ele continua seguro conosco entre os quatro muros.

POR UMA BOA CONVIVÊNCIA

Temos que admitir que a consciência geral está mudando para melhor, mas a passos lentos. Vemos associações de proteção aos animais e pessoas como nós – ‘militantes’ da causa animal’ – fazendo campanhas na internet por uma melhor qualidade de vida e relacionamento entre os pets e a sociedade ao redor. Esperamos que a convivência avance para um meio-termo onde possamos estar todos lado a lado, cada um no seu quadrado, sem incomodar o próximo.

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